sexta-feira, 25 de julho de 2014

Não É O Que Parece

“Nossa, como você... tá forte/cresceu”. Não, eu estou gorda. Pode falar, isso não me ofende. Ser gorda, gay, loura, ou ter vida sexual ativa (vulgo “vadia”) não é ofensa, e se você pensa o contrário, meu amigo, eu tenho pena de você.

“É difícil achar roupa pro seu... tamanho?” É, porque a industria da moda acha que todas nós temos as medidas da Gisele Bündchen. Nem a auto-intitulada “moda plus size” é plus size – gente, calça nº 46 não é plus size, pelamor.

“Você acha mesmo que deveria comer isso?” Eu to com fome, eu tenho condições de pagar comida, e estou com vontade de comer isso, então sim, eu acho que eu devo. Cale a boca.

“Você tem que se amar”. Eu me amo. Quem te passou a idéia do contrário? Só porque a minha bunda é duas vezes o tamanho da sua, não quer dizer que eu me odeio.

“Fico feliz que você tenha decidido fazer a cirurgia, agora você vai se cuidar”. Eu me cuido muito bem. Tenho a saúde perfeita, muito obrigada. Eu decidi fazer a cirurgia porque tenho tendência a continuar engordando, e eu gosto muito da minha coluna. Estou pensando na minha saúde futura; ficar magra é uma conseqüência.

“Mas você não quer emagrecer?” Lógico que eu quero. Toda pessoa gorda sonha em emagrecer, e aquela que diz que “não” está mentindo. Existem aqueles de nós que vão ao médico, fazem dietas extremas, se matam na academia pra perder de cinco a dez quilos. Também tem aqueles de nós que se aceitam, e se amam como são, e são felizes com o próprio peso. Querer emagrecer é uma coisa. Agora, emagrecer é outra completamente diferente.

Ser gorda não me faz doente. Ser gorda não quer dizer que eu tenha um distúrbio alimentar. Ser magra muito menos quer dizer saúde. Do mesmo modo que ser loura não te faz burra, ter tatuagens não te faz um marginal, usar roupas curtas não te faz uma vadia – nem é desculpa pra ser assediada na rua, muito menos está pedindo – ser gay te faz menos humano, ou ser religioso te faz um santo ou pregador.


Então, é, nem tudo é o que parece. Pense nisso da próxima vez que ver uma pessoa na rua que ative o seu modo preconceituoso.